domingo, 11 de dezembro de 2016

O poder do rumor: reflexões sobre o Grande Medo (1789)

O Grande Medo (em francês Grand Peur) foi uma onda de revoltas camponesas que varreu a França entre o período de julho a agosto de 1789. Essas revoltas foram causadas por preocupações econômicas, o pânico no campo e o poder do boato. Entusiasmados com as novidades políticas no verão de 1789, os camponeses começaram a ouvir rumores sobre "bandoleiros" que aparentemente estavam invadindo e saqueando as aldeias. Esses rumores apareceram em diferentes lugares, tomaram formas diferentes e invocaram diferentes níveis de resposta. Muitos camponeses responderam armando-se e se mobilizando para defender sua propriedade. Alguns foram mais longe e engajados na violência revolucionária, saqueando viajantes nas estradas, roubando os castelos de aristocratas e destruindo contratos feudais. 

Os camponeses, ao que parece, tornaram-se os bandidos destrutivos que inicialmente temiam. Enquanto poucas pessoas foram mortas durante o Grande Medo, milhões de libras foram roubadas ou destruídas. A história do Grande Medo começa com a paranoia envolvendo grupos de pessoas forasteiras. Os camponeses franceses estavam acostumados a pessoas de fora que chegavam em sua região, geralmente no meio do ano, quando o verão propiciava viagens mais fáceis. Alguns desses estrangeiros eram trabalhadores sem terra ou pessoas da cidade em busca de trabalho remunerado. Os outros eram mendigos, vagabundos e marginalizados que decidiram viver fora da cidade para procurar a caridade dos agricultores nos campos. As comunidades camponesas eram, por sua natureza, aversa a estranhos. Os novos forasteiros competiam por trabalho, comida e caridade fornecidos pela paróquia local. A situação foi particularmente crítica na primavera de 1789, época em que a França sofreu a pior crise alimentar em vários anos. 


Mesmo as pequenas reservas de grãos estavam diminuindo. De acordo com Georges Lefebvre no seu estudo "O Grande Medo de 1789" [1] o número de forasteiros nas áreas rurais atingiu níveis alarmantes.
Os trabalhadores desempregados deslocados pela crise da indústria estavam em toda parte em busca de empregos [...] Vagabundos e mendigos sempre foram uma fonte de preocupação para o pequeno proprietário rural, sufocaram as estradas e ameaçaram represálias contra os chefes de família que se recusaram a dar-lhes abrigo ou um pedaço de pão. Homens e mulheres invadiam florestas e campos e roubavam a lenha e os grãos antes que a colheita estivesse madura.
As comunidades camponesas também foram perturbadas pelos acontecimentos políticos de 1788-89. A convocação dos Estados Gerais e a elaboração dos cahiers criaram um clima de otimismo e expectativa em todo o país. O processo de escrever os cahiers foi politicamente estimulante porque trouxe camponeses juntos para discutir sua situação e compartilhar suas queixas, particularmente os encargos dos impostos reais e taxas feudais. A notícia da formação da Assembléia Nacional, do juramento do Tribunal de Tênis e da aceitação do rei pela reforma causou entusiasmo nas comunidades camponesas - mas essa excitação foi de curta duração. Em meados de julho, as notícias chegaram às províncias de que o rei tinha mobilizado suas tropas e demitido seu diretor de finanças, Jacques Necker. Isso abriu a brecha para boatos e teorias da conspiração que sugeriam uma contra-revolução realista ou aristocrática iminente. Essas histórias tomaram diferentes formas em diferentes regiões. 



O rumor mais comum era que o rei ou seus nobres conservadores haviam empregado bandos de tropas estrangeiras ou bandidos para marchar para as províncias e colocar o povo de joelhos com violência, saques e destruição indiscriminada. Esses temores de retribuição real e aristocrática se espalharam exponencialmente no final de julho, como o próprio Lefebvre disse, "o medo produziu medo". Lefebvre e historiadores posteriores tentaram acompanhar o curso do Grande Medo, embora com apenas um sucesso parcial. A circulação dos rumores era rápida. Há relatos do mesmo boato que aparecem em lugares a 20 milhas de distância no mesmo dia. À medida que esses rumores circulavam, algumas comunidades camponesas ficaram convencidas de que os bandidos contratados estavam marchando em seu caminho. Nesse clima paranóico, mesmo o evento mais benigno - um avistamento de estranhos, movimento à distância, fumaça no horizonte - poderia desencadear uma resposta em pânico. O Grande Medo foi um tipo de insurreição popular muito específico, pois tinha natureza espontânea, esporádica, e destituída de organização. Os estudos historiográficos ainda não apresentaram uma conclusão concreta do que levou ao pânico generalizado entre julho e agosto de 1789. Algumas teorias mais "extravagantes" afirmam que os camponeses haviam consumido farinha contaminada com o fungo responsável pelo composto ativo presente no LSD, o que seria a causa de tantos delírios e paranoias na população do campo.


Autora: Andressa Freitas dos Santos, estudante da graduação de História (Licenciatura) da UFRN.

[1] O Grande Medo de 1789.

2 comentários:

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